11 dezembro 2008

I'm moving from this town...

Aí vou eu. Brazuca. Nessas últimas semanas tive os dias mais lindos da minha vida, a melhor festa de despedida possível e um amor inegável de tantas pessoas. Mas, tá na hora de voltar e digerir toda uma vida... uma encarnação. E entender JULIA volta para casa. 
Vou continuar postando histórias de Gana, assim que eu conseguir olhar para toda essa experiência como algo concreto. Ainda estou em um limbo, em um sonho. Quase um ano que foi quase toda minha vida. 
Deixo uma canção e embora a garota da letra esteja revoltada com o lugar que ela deixa, eu estou é revoltada com toda amizade e beleza que Gana me mostrou... é duro deixar uma terra assim. 
Mas, mais duro ainda é ficar sem a terrinha, sem meu país... cansei de ser expat! Quero feijão e arroz! Quero carne e quero carne da minha carne... hehe
Aí VOU EU.... DIA 17 aterriso back em SUMPA! 

I'm moving from this town
Katie goes to Hollywood

I'm moving from this town
I'm going to a place I know
far away,
I can't stay here anymore
'cause loneliness is bitter
and bitterness my only friend
a spiteful pain tears me up
until there's nothing left
I'm ready now to give it up
close the door, walk away
and don't look back
I want snow in the winter,
melting ice in the spring
soft light in the summernights
cold rain on firecoloured leafes
I need to go back home
I want snow in the winter,
melting ice in the spring
soft light in the summernights
cold rain on firecoloured leafes
I'm bidding you goodbye
this town was never meant to be
gentle see, it wasn't made for people like me
so hold your breath I'm on my way
I'm going now, to my friends in my hometown
back to my friends in my hometown

Para quem quiser ouvir, clique aqui 

24 novembro 2008

20 novembro 2008

Meu trabalho


Parte do grupo do The Informer - meu projeto aqui em Ghana.

www.theinformer-ghana.blogspot.com

27 outubro 2008

Hora da decisão

Faz três dias que não durmo mais do que quatro horas; algumas semanas que meu sono se dá da pior forma possível: pesadelos, suor, medo. A decisão que tanto posterguei precisava ser tomada. Ou melhor, a decisão há muito caladinha no meu peito, precisava ser verbalizada. 
E assim o fiz. Ontem (ou melhor, hoje) lá pelas duas da madrugada, comuniquei aos meus chefes que era hora de voltar para o Brasil.
A oferta foi sem dúvida uma honra. Mas, três principais motivos me chamaram de volta:

Minha brasilidade 

Trabalhar com o terceiro setor exige muito da pessoa e exige mais do que qualquer coisa, uma ligação com o público atendido. Esta ligação pressupõe, maioria das vezes, similaridades culturais, linguísticas, etc. E, principalmente, a vontade de se trabalhar mutuamente a alteridade. Eu acredito piamente que consegui cumprir a segunda porção e parte da primeira. Acredito que nesses meses que aqui estive, aprendi a entender Ghana e observar meus preconceitos e inaptidões frente a cultura africana. 
Me despi de muitos mitos e confirmei outros tantos. 
Mas, principalmente me vi como brasileira em terra estrangeira. 
Tão brasileira que só penso em continuar com meu percurso africano em minha própria terra. Faz sentido? Naveguei mares e cruzei céus para chegar ao meu próprio começo.

Saudades

A maior das dificuldades da vida estrangeira é a solidão. Uma solidão tremenda, em que o encontro com o Outro evidencia as falhas, anseios e angústias que tanto tentamos esconder. 
A vontade do pertencer, do entender e ser entendido aumenta muito. Ghana tem pessoas incríveis, tão incríveis quanto no Brasil. Mas, a diferença cultural - especialmente em cidades pequenas - e a barreira da língua são obstáculos difíceis de serem ultrapassados.
Acredito que eu consegui bem. Rompi com os limites da minha cor e fui vista como Julia e não mais como ievu. Pelo menos por algumas pessoas, pessoas que gosto e que se tornaram peças vitais da minha vida e sobrevivência de expatriada.
E, agora, depois de tanto tentando pertencer, deixo as conquistas para voltar ao berço. Parece loucura... ou no mínimo masoquista. Mas, não. Agora quero me reconstruir novamente em meu espaço, carregando comigo Ghana, as pessoas queridas, os outros ievus que conheci e mais do que tudo, minha solidão e o que aprendi com ela. 

Escolhas
Meu pai falava que durante a vida carregamos diversos "mortos". Cada escolha que fazemos são pequenas mortes que deixam para trás um mundo de possibilidades. 
A cada escolha, "matamos" outra oportunidade. Algo que poderia ter sido, algo que poderíamos ter escolhido.
Enfim, ... foi essa a premissa que me fez decidir. Qualquer que fosse minha decisão, haveria uma consequência... e ao final do dia, eu escolhi meu presente. O que eu quero para mim hoje, esquecendo o futuro, carreira, oportunidades. O que eu quero hoje é voltar.

****

Comuniquei minha decisão e se for preciso, um dia, lamentarei mais esse "morto" em minha vida. 
Estou feliz e aliviada por finalmente ter tomado a coragem de enfrentar minha vontade e pautar minhas escolhas naquilo que quero. 



21 outubro 2008

should i stay or should I go e VIVA O THE CLASH

Minha vida em Ghana pode acabar em dezembro ou pode continuar até meados do próximo ano. fui convidada a ficar mais um tempo por aqui... Me ofereceram o cargo de Comunications Officcer - algo que pode ser traduzido como uma posição de coordenação. 
A idéia é que eu coordenene o programa de peer education e lide com toda a parte de comunicação do site - desde a alimentação da newsletter e do site da ong até lidar com a imprensa (assessoria) e design de materiais (posters, flyers, etc). 
A possibilidade de ficar mais tempo é sem dúvida uma honra e um tremendo voto de confiança. 

****

Minha auto estima, que andava meio cabisbaixa, foi lá para cima. E, ainda mais, como um reconhecimento de nada mais do que eu fazendo meu trabalho... 
Porém, e sempre existem poréns... ainda não aceitei ou recusei a oferta. Oficialmente tenho mais uma semana para comunicar minha decisão. 

****

Entre os famigerados poréns, está a saudades de casa. Uma saudades tamanha. De tudo e todos. Dos amigos queridos, do colo de mãe, da comida, do chuveiro, da cama, dos cheiros, gostos e barulhos... saudades do tato do abraço do similar, saudades dos beijos conhecidos. Saudades. 
Lembro da canção do recém-falecido Dorival. "Ah mais que saudades tenho da Bahia. Ah. Se eu escutasse o que mamãe dizia. Ah, essa saudades dentro do meu peito. Eu pelo menos mereço o direito de ter alguém com quem eu possa me confessar." 
Saudades desse alguém.
Saudades de um alguém brasileiro, que fale a mesma línga que eu, que saiba o significado de saudades, que ame da mesma forma que eu, que brinque com o mesmo humor que o meu....

****

Vim para Ghana com a perspectiva e a vontade do encontro com o Outro. Mal sabia eu que esse Outro não me daria descanso. O contato com a alteridade - que tanto busquei - cansa. É uma tarefa contínua e cotidiana. 
A cada dia meu encontro com o Outro se torna mais difícil. Com as dificuldades vem a vontade de abandonar o barco. Fugir. Remar em direções opostas. Cruzar o Atlântico e buscar aquilo que me é familiar.

****

Diariamente SEM FALTA, recebo ao menos 10 propostas de casamento, me colocando como se fosse um objeto com garantia de futuro. Sou tida como americana ou inglesa. Se sou branca, tenho dinheiro (o que para os padrões de Ghana faz sim sentido). Mas, tudo o que é maravilhoso do meu encontro com as mulheres daqui é o extremo oposto com os homens. É sem dúvida uma manifestção infernal. Falta, além de tudo, tato. Em Ghana, não existe uma noção clara de privacidade e, por isso, qualquer comentário é feito em alto e bom SOM. Não há escapatória. É aquela sensação horrorosa de passar na frente de um canteiro de obras por 24 horas seguidas. Fogo. 

****

Sei que estou naqueles dias em que preciso ventilar meu cérebro. Deixar as angústias transparecerem. Sei também que preciso dormir e recomeçar minha rotina por aqui. Rotina que eu felizmente adoro. Acordarei com os galos (absolutamente fora de sintonia) lá pelas quatro da manhã.... enrolarei "um bocadinho mais" na cama até umas sete e meia. Levantarei, tomarei banho e bora pro trabalho. Pegarei um taxi, travarei o mesmo diálogo de todos os dias com o motorista, recusarei dar meu telefone e finalmente chegarei no trabalho, onde passarei oito horas na companhia maravilhosa de pesssoas queridas e dos jovens com quem trabalho. Voltarei para casa cansada, pensando se devo ou não blogar, calcularei minhas forças, darei muitas risadas, chorarei um pouquinho e ficarei mais perto de uma decisão. Até o dia que o sim ou não terão de aparecer. 

**** 

Até breve! 

17 outubro 2008

Reportagens

Povo... aí vão algumas das minhas reportagens escritas em ingrrrrês. Meus escritos n'outra língua parecem sempre que foram feitos por outra pessoa. É estranho como a idéia de "pertencimento" está tão associada a nossa língua e nossa cultura. 

Enfim, fica aqui um pouquinho do que tenho feito como repórter para a Village Exchange Ghana e o que tenho desenvolvido como staff (educadora) no Lady Volta Resource Centre.

Até breve!


LVRC Trained To Start A Peer-Education Programme

Julia Dietrich


Lady Volta Resource Center (LVRC) partnered with Planned Parenthood Association of Ghana (PPAG) to train youth leaders from Ho, Volta Region (Ghana) in peer education techniques.  In an intensive, four-day program that started on the 6th of October, thirteen youth leaders currently working with teenagers and young adults from Volta Region were trained in how to inspire young people to become leaders in their communities.  Among the trainees, was the LVRC own staff that will soon be training a group of young educators. 

For LVRC Program Officer, Amanda Clarke, the peer educator system enables a sustainable model of improvement in health care, “It is a continuous process. We were trained to train other peer educators who will continue working in their communities and so forth.”

Since 1967, PPAG has worked in providing healthcare and development services for the nation of Ghana.  Among many other activities, PPAG trains non-governmental organizations (NGOs) using materials and techniques built on a deep understanding of local health issues and abundant field experience.

“It is amazing for us to take part in this enterprise. This is what peer education is all about: passing on knowledge”, explains the PPAG trainer, Selassie Sianu. “It is our commitment and interest to observe how the LVRC is going to make use of this training. We want to see how the concept will be explored by the centre”

According to Emily Adevor, the LVRC Project Officer, this training event has been a strategic goal as an Implementing Partner of the United Nations Fund for Populations (UNFPA). “For us it was an honor to learn from PPAG and better achieve our goals. We will certainly make good use of this knowledge,” she explains.  Clarke agrees, stating that the training from PPAG will allow the beneficial transfer of knowledge from a big and general organization to the local scale.

From the caretaker to the office manager, all the members of the LVRC staff are taking part in the programme. “It is very important that we were trained as an unit to work in a cohesive and joint way”, states Adevor.

The trainees responded really well to the programme. “Among other things, it is a nice programme because it will help us to develop our skills in what we have already been doing. We now have a formal structure for what we were doing instinctively”, states the LVRC male counselor, Courage Afashime.

“I found out that I myself am a peer educator. I started as a youth leader based on what I saw in my community. So I’m building myself as a counselor to the centre, as a counselor in general and as a leader in my community”, complements (check meaning of complements) Afashime, who was hired by LVRC because of his significant role as an engaged citizen of Ho.

To enhance the training process, also known as Training of Trainers (TOT), PPAG provided an exclusive line of materials that included an extensive programme on how to tackle the high HIV-Aids rates in Ghana.

LVRC Kicks Off The Life Skills Programme

Julia Dietrich


“One of our corner stones here at Village Exchange Ghana (VEG) is to offer comprehensive services through a holistic approach. We want to integrate different components to better equip women and help them create change”.

The premises stated by Lady Volta Resource Centre (LVRC) Programme Officer, Amanda Clarke, is the motto for the Life Skills Programme, a VEG integrated programme. Developed by two volunteers under the coordination of Clarke, the project aims to equip workingwomen of the VEG staff in reproductive and sexual health (RSH), literacy, numeracy and personal finance.

According to the United Nations Fund for Childhood (Unicef), ultimately, the interplay between the skills is what produces powerful behavioral outcomes. “This programme actually will reach more than just the initial group. Every woman will go back to their own family and community and spread the knowledge they are acquiring. Since most of them are young mothers, their growth through the provided life skills will also benefit their children”, agrees Clarke.

The group of employees, all from Lady Volta Beads and Batik, are mostly young mothers, working as seemstresses and jewelry makers. “The best part of this programme is the fact that it is not a normal school classroom. Here we work with what they want to learn and when you have students that want to learn the teacher has a good time explaining things to them,” explains the facilitator of the classes, Cecilia Aglobitse.  

To understand and plan the classes, the team of volunteers went to the two groups and developed a base line assessment, looking for information to create a curriculum that would respond to their needs.

However, according to Aglobitse, teaching in a Life Skills programme is not easy and it requires more of the individual. “You have to make them enjoy the classes. Since they have no obligation to attend the project, do homework or have good grades, the facilitator really needs to be joyful and caring. They will only be eager to learn and participate if the teacher makes the subjects interesting.”

It is for that reason that the Unicef is advertising similar programmes throughout different countries. For the fund, the development of life skills-based education comes as a response to the need to reform traditional education systems, which appear to be out of touch with the needs of the contemporary societies.

The Unicef states that many countries are now considering the development of life skills-based education in response to the need to reform traditional education systems, which appear to be out of touch with the needs of the contemporary societies.

One of the reasons for hiring Aglobitse was the fact that she is a native ghananian and a ewe speaker. “I think I can relate well to the girls. My culture is the same as theirs and that helps them a lot. I also used the local language for the RSH module because it was our goal for them to fully understand the topics”, explains the teacher.

As for the future of the programme, both Aglobitse and Clarke want to see it grow and expand to other segments and groups of society. “We are looking to launch a Life Skills in RSH with women who are clients at our Microfinance Institute”, predicts Clarke.

For Aglobitse, the next step is to tackle young men. “Like the girls, they can also profit from getting to know more about themselves and learning important skills that will help them in the work environment.”

Whether with young men or microfinance clients, the project will continue as a constant activity on the years to come.

Lady Volta Beads Hits The One And Half Year Mark

Julia Dietrich


Different beads of various colors spread on a centered table. In the corner a bookshelf filled with children’s books. Necklaces on the wall. Two years olds playing and giggling on the floor. Smiles and eight eager working hands. Four women. This is Lady Volta Beads...

Created in May 2007 by Village Exchange Ghana (VEG), the project gathered four young women of the village of Takla Gbogame, near Ho, and trained them in jewelry making with the help of a famous artist in Accra, the capital of Ghana. Since then, the young women, three of them already mothers, have been creating their own line of necklaces and selling them online and at social events in Ghana.

“The girls are doing a very good job and are definitely experts at the craft. The challenge now is to improve our sales,” explains the Programme Officer for the Lady Volta Beads, Julianna Pawiah. Therefore, shortly after one year of existence, the small business is looking to the future and hoping to increase its sales and opening its own store.

“Our dream is to have a place to sell our makings. Then we will gain more pay for our children’s school fees,” explains the young mother and jewelry maker, Mispah, 21. Like her three colleagues, she earns a minimum of $40 a month, plus a commission for every piece sold – which is twice the usual wage for similar jobs in Ghana. “We embrace fair trade ideas”, adds Pawiah, explaining how the project focuses on a market-based approach to help develop the local community.

Julianna Pawiah
Lady Volta Beads Project Officer
 

According to the manager, by supporting even a small business the whole community gains. “And also the next generations will gain. With more family support the children will grow in better conditions.” 

To improve their skills as active women in the society, they are being trained by the Lady Volta Resource Centre, another branch of VEG, in different topics including numeracy, literacy and reproductive and sexual health. “Before we only had our children to take care and nothing to help us. Now we have work and we can take care of them. I feel that all was hard but now I’m proud and learning with life,” concludes Believe, 22.

06 outubro 2008

PEER EDUCATION!


Voltei ao mundo virtual com força total, mas como diria Murphy e sua lei, agora o que me falta é tempo! 

Aos que me procuram, não desapareci por maldade! E aos que não estão nem aí para meu sumiço, escrevo o motivo do meu desaparecimento mesmo assim. A justificativa é na verdade motivo ou assunto suficiente para um post novo no blog! Ei-la ou ei-lo:

Desde 1967, Ghana conquistou e abriu uma "filial" da gigante organização internacional Planned Parenthood - a principal e mais tradicional no ramo de saúde reprodutiva e direitos sexuais, meu atual campo de trabalho. 

Com base nas indicações internacionais dos grandes fundos (Unicef, Unesco), a Planned Parenthood Association of Ghana (PPAG) começou, muito antes do que muitas organizações do dito primeiro mundo, a promoção e implementação do conceito de Peer Education - Educação de Pares. 

Basicamente, "educação de pares" significa capacitar um indivíduo para que ele exerça a função de educador no seu grupo de similares, ou entre seus pares. No caso da PPAG e da ong em que estou, treinar jovens para se tornarem educadores em suas comunidades sobre Saúde Reprodutiva e Sexualidade. 

Os jovens se responsabilizam pelas suas ações - desde a coleta de informações até a resposta de seus pares - , e se tornam veículos da ong. 

Na PPGA, a iniciativa deu tão certo que os jovens assumem também cargos administrativos e têm cadeiras fixas em todas as escalas da ong. Para se ter uma idéia, entre os "board members" (conselheiros da ong), 1/3 são jovens que pertencem ao sistema de peer education da ong. 

O processo de seleção é longo e caro - sem contar o treinamento. Porém, e acredito nisso com muita força, o sistema é a solução para os países em desenvolvimento. É incentivando e Creditando a juventude que obteremos resultados. 

A educação de pares é tão fenomenal que pode atender todo e qualquer grupo social, etário, étnico. Por exemplo, é possível ter um educador de 68 anos trabalhando com a comunidade de uma casa de repouso sobre, por exemplo, como evitar a hipertensão. 

São inúmeras as pesquisas que denotam como os indivíduos respondem melhor ao que ouvem de seus pares - a informação se torna parte do coletivo e assim pode ser apropriada. 

Resumindo, entre minhas maluquices e confusões, estou determinada a tocar meu mestrado observando a educação de pares, comunicação e saúde comunitária. Três pontos absolutamente relacionáveis e que sim, dado os devidos estímulos, podem trabalhar muito bem juntos. 

Volto em breve com mais das minhas historietas de Ghana. E aos colegas que escrevem, perdão pelos inúmeros erros de português. Se eu for reler minhas baboseiras, aí que não postarei no blog. Por isso, eis o texto: corrido, manco, aos tropeços, ....

01 outubro 2008

Um pequeno artigo

Finalmente tenho uma desculpa para o meu sumiço. Meu querido computador decidiu me abandonar! Após mil crises cibernéticas em Ghana (são piores que na terrinha), volto, brevemente (de computador novo!!!) ao meu querido diário de bordo. Infelizmente pela falta de tempo e atendendo a pedidos, eis minha primeira reportagem em inglês.
Bobinha, sem nada de extraordinário, mas ainda assim, meu primeiro exercício como jornalista aqui, do lado de do oceano.

Volto em breve!

Eis o link!




10 setembro 2008

Iko nye nye Julia

Depois de algumas semanas vivendo na terra de Ewe, agora me sinto um pouco mais confiante na prática do idioma local. Infelizmente, ainda falta muito, mas como dizem na ex-sempre-terrinha "a esperança é a última que morre".
Depois de novos e contínuos sumiços (cansei de me desculpar...haha), voltei para ensinar virtualmente um pouquinho de ewe para vocês, amigos brasileiros!

Aí vamos nós!

Me lò wo - I like/ love you
Me lò akoduwo - Eu gosto de bananas.
Ma fle akodu ene - Eu quero quatro bananas.
Nene? – Quanto custa?
Alafa deka kple eve - cento e dois (hahaha!)
Alafa deka kple bla asieke vo asieke - cento e noventa e nove
Meyi kple mava - Eu vou e volto logo
Me si tso dòme - Eu corri do trabalho (algo como, vim correndo do trabalho)
Afi ka mama? - Onde está a mama? (lembrando que mama é um jeito carinhoso de chamar qualquer mulher da família).
Iko wò de? - Como você se chama?
Iko nye nye ..... - Eu me chamo ....
Mafo wò - Eu vou bater em você (Essa é popular! As crianças vivem se ameaçando e, por sua vez, as mães e outras pessoas da comunidade aproveitam e ameaçam as crianças que ameaçam as outras....eta maravilha! Em breve escreverei sobre o tema “Fo” (bater) em Ghana!
Dui - Coma!
Midui - Vocês, comam!
Mefo gake - Eu não estou muito bem...
Megava - Eu volto logo
ga - dinheiro
metso - Eu estou/ Eu fico
Meyi afème - Vou para casa
Ndó na wò - Boa tarde para você
Ndó, afémeto? Boa tarde, e a família (como vai)?
Míado - Boa noite para nós!
Suku -escola

etc etc!
O divertido é que agora já consigo escrever e formular algumas frases sozinha e a reação da comunidade é genial! Todos celebram meus pequenos passos!
Embora a presença de ewos (brancos) em Ghana não seja algo raro, são poucos (ou quase nenhum) os que querem aprender a língua local. Por isso, quando um louco ou outro aprende ou tenta estudar ewe, a população vibra!
E o mesmo vale para as outras línguas, como o ga, shanti, tui, etc!

É impressionante como todos - desde muito pequenos - aprendem mais de um idioma. Em algumas vilas que estão nas fronteiras regionais, aos 14, 15 anos os adolescentes falam 4 ou 5 idiomas fluentemente! Entre eles, claro o inglês.

O inglês em Ghana é derivado do Inglês britânico (herança colonial), mas tem suas particularidades e um sotaque bastante característico.
Aí vão algumas das expressões em "ghananian english" de que mais gosto:

small small - rapidinho/ pouquinho
Normalmente quando alguém fala “Volto em small small”, pode sentar porque small small em ghana significa no mínimo meia hora de espera.
I alight here - forma mais comum de pedir que o taxista pare em determinado lugar. Alight em uma tradução literal é algo como "vir da luz", "produto de luz", "iluminar"...acho genial! Eu sairei da luz, eu me iluminarei ali na entrada do mercado!
Plenty - tudo é plenty. Novamente em tradução literal, plenty significa "suficiente" ou "bastante", mas em ghananian english é a palavra mais usada para descrever "muito", substituindo “ a lot”. Tudo é plenty! Embora não seja de forma alguma incorreto usar plenty como Ghana usa, é engraçadíssimo como "plenty" é usado a torto e a direito....“Aqui tem plenty barulho, tinha plenty gente no local, eu amo você plenty”
I'll beat you (lê-se I will BIT u) - tradução do vou bater em você, usado o tempo todo, tanto em inglês, quanto em ewe.

Bom, fico por aqui e em breve volto com mais historietas e anedotas....
Miado go - até nosso reencontro!

14 agosto 2008

Educação?




Prometi inúmeras vezes postar com mais assiduidade, mas infelizmente promessas não são o meu forte....


Deixo as desculpas de lado e escrevo abaixo sobre, como prometido (ei!uma promessa que vou cumprir!) sobre a educação em Ghana.





****





"Quando eu não acertava uma questão ou simplesmente quando olhava meio de lado para um professor, eu era sempre colocado no armário dos maus-alunos", me contou, assim como quem não quer nada, meu colega de trabalho, Courage Afashime.







"Mas, Courage. Como assim armário dos malvados", perguntei.





"Ah. Um armário bem pequeno e escuro onde éramos colocados", respondeu Courage.




"Eu me lembro bem desses armários. Se bem que o armário era melhor do que apanhar de vara da professora", riu Clara, outra amiga e colega do Lady Volta Resource Centre.




Foi esse diálogo de fim de tarde que me fez buscar mais informações e conversar com algumas pessoas sobre o sistema educacional em Ghana. Sem pretensões de exercer minha famigerada profissão de jornalista, embora tenha usado o recurso de entrevistas informais, escrevo sem nenhuma ordem específica, adequando a hierarquia de informações ou seguindo algum tipo de regra.


Comecei meu percurso com uma pesquisa no site do Google.uk, considerando que as informações apareceriam mais facilmente na rede britânica e, como dizem os que dizem, BATATA. Encontrei o que buscava.


Se comparado aos outros países da África ocidental (West Africa) e mais ainda das antigas colônias da Inglaterra, Ghana tornou-se independente do sistema britânico de educação relativamente cedo, logo com a Independência, em 1957. Durante o período colonial e até mesmo antes da chegada dos ingleses, o sistema escolar em Ghana começou com a presença de missionários e comerciantes europeus - seguindo o modelo ocidental de educação.



Foi nessa época que aconteceu o primeiro governo nacionalista, liderado pelo político Nkrumah, que desenvolveu um "plano básico", um norte para educação do país. Foi então implementada uma legislação bastante progressista para os padrões africanos - fazendo com que a educação primária fosse gratuita e compulsória.


Até então, as escolas eram geridas por grupos relifiosos ou pelas próprias lideranças comunitárias (chiefs e queen mothers - chefes e rainhas-mães). Em 1961, Ghana promulgou um segundo Ato Educacional que tornou o nível elementar (equivalente ao Ensino Fundamental) também gratuito e compulsório.

Em 1957, Ghana tinha somente uma universidade e cerca de uma dezena de escolas primárias. Nos anos 80 novas reformas fizeram com que a estrutura do sistema educacional ganense ficasse mais parecida com a do sitema norte-americano.


Hoje o sistema educacional em Ghana é bastante centralizado, sendo coordenado pelo Ministério da educação e seis agências regionais. O ingresso nas universidades se dá por um exame nacional, similar ao exame de final de curso dos Estados Unidos. Desde 1990, o governo exige que todas as instituições de ensino -das primárias às de educação superior - passem pelo crivo de uma acreditação nacional de qualidade.


No total, de acordo com o site do governo, Ghana tem 12.130 escolas primárias, 5.450 intermediárias e 503 do equivalente ao Ensino Médio. No Ensino Superior, são 21 instituições de treinamento (magistério, por exemplo), 18 técnicas e cinco universidades.


O outro lado


Feito este balanço histórico, escrevo agora sobre o que realmente acontece em termos educacionais - ou pelo menos como as pessoas que conheci e com quem convivo me descrevem as escolas e os problemas do sistema educacional.


"As escolas existem e estão super lotadas, porém uma imensa gama da população jovem não está nas salas de aula. O motivo? Dinheiro. Embora as taxas tenham sido abolidas, as famílias ainda são obrigadas a pagar pelos uniformes (obrigatórios), material escolar, comida e outros tantos valores que incluem desde taxas de limpeza até somas sem explicação ou origem", explicou SM, assistente social em Ho.


Segundo SM, a situação tende a se agravar ainda mais nas vilas e regiões do interior. "Aqui é comum ver as meninas aos 15 anos deixarem a escola. Ou é por falta de dinheiro ou é porque engravidaram", me explicou a professora Cecila S., da vila de Akpoefe, onde passei dois dias, realizando uma pesquisa sobre a juventude local.


A idade média para gravidez na adolescência em Ghana é 15 anos e em algumas regiões 17, números considerados baixos se comparados ao quadro geral do continente africano. "Sim estamos melhores que muitos outros países, mas isso não significa que esteja tudo bem e este é o maior problema dos nossos governantes. Para eles é fácil comparar com o resto e dizer que estamos avançando", explicou Cecila, repetindo em inglês o que nós brasileiros gostamos de chamar de "menos pior".


Em Akopefe, cerca de 20km de Ho, a escola primária e secundária é na verdade três salas de aula de compensado com terra batida. Há teto, mas não há luz e as paredes são apenas vigas esparsas para a sustentação da parede onde está a lousa. A estrutura lembra muito as "escolas de lata" de um famigerado prefeito paulista. Porém, e aqui grifo o verbo, ouso dizer que são piores.


Em Ho propriamente a estrutura dos prédios são ligeiramente melhores, mas na grande maioria também não há luz elétrica - com a desculpa de que apenas funcionam de dia. "Nas que oferecem curso noturno tem luz sim", comentou um dos meus alunos aqui no centro.


Além da falta de estrutura, novamente existem outros paralelos com o Brasil: baixíssima remuneração de docentes, má qualidade de ensino e a famosa superlotação das salas de aula.


Mas, na minha opinião, há ainda um ponto de extrema relevância, infelizmente negativa. Em Ghana há uma autorização geral em atos violentos contra crianças - bater é comum e constante em todas as instâncias sociais - em casa, no bairro, na escola e até nas ruas. Como as crianças são criadas coletivamente, qualquer um pode "disciplinar" uma criança na rua.


Nas escolas isso é reenforçado. Canhotos não são permitidos. Questões? Para quê perguntar? Quem pergunta é desobediente e apanha. Quem não entrega a tarefa porque estava ajudando os pais na lavoura, apanha também.


Porém, de uma forma igualmente maluca, não há a menor ordem, especialmente nas vilas do interior em que estive. As crianças entram e saem da sala quando bem entendem, mesmo que o ato seja também repreendido com cascudos, armários, etc. Não há medo de apanhar - apanhar é rotina.


É claro que tracei um perfil do que vi e, como estrangeira me acostumando com outra cultura, evidencio ou sou tragada pelas diferenças ou pelo que me chama mais atenção. Sei que o Brasil não está muito longe disso, mas novamente, tenho meu olhar criado pela elite paulistana...meus óculos são outros. Não posso negá-los.

Existem, no meio de tanto a percorrer, professores exepcionais que sim, assim como os nossos, fazem das tripas coração para ensinar e ensinar de verdade - sem cascudos ou armários.





escola em Ho
#

22 julho 2008

Mulheres mães, mulheres trabalhadoras


Em Ho e especialmente nas vilas que visitei, as mulheres de Ghana são um exemplo, assim como a maioria das brasileiras, da famosa "dupla jornada de trabalho". Como creches e pré-escolas absolutamente não existem e, como muitas vezes, as famílias não conseguem pagar as taxas escolares, as mães têm que trabalhar, ao mesmo tempo que cuidam dos filhos.

Para não ser injusta, duas vezes em mais de um mês em Ho, vi pais acompanhados de seus filhos. Normalmente, é função da mãe prover e criar os filhos. Os pais trabalham e contribuem para o sustento da casa, mas não têm grandes obrigações emocionais ou no dia-a-dia das crianças. É claro que os pais amam seus filhos e sim se relacionam com eles, mas a responsabilidade de atender às necessidades das crianças é fundamentalmente da mãe e das outras figuras femininas da casa.

Assim que são capazes de segurar um bebê, as "irmãs mais velhas" são designadas para o cuidado das mais jovens. Normalmente em torno dos oito anos de idade, as pequenas trocam as fraldas, banham e dão de comer para as mais novas.

Nas barracas do mercado - principal atividade comercial em Ho e nos inúmeros salões de beleza cidade, as mulheres adultas estão freqüentemente acompanhadas de suas filhas e filhos. As mais velhas tomando conta das mais novas.

Os meninos, por sua vez, são designados para o cuidado dos irmãos, mas não têm a obrigação de assistir com comida, troca de fraldas e banhos. Normalmente, as mães os pedem para "vigiar" e brincar com os mais novos ou mais novas.

Quando o filho é único ou ainda muito pequeno para depender dos irmãos, as mães realizam todas as tarefas domésticas e de trabalho (mercado, salões de beleza, lojas) com os pequenos a tira-colo. Para ficar com as mãos livres, TODAS as mulheres de Ho e nas vilas da Região do Lago Volta*, levam as crianças em espécie de panos que enrolam na cintura.


É realmente intrigante ver todo o processo para "prender" o bebê nas costas. De uma maneira mágica, as mães (mesmo as mais jovens com cerca de 14 anos) conseguem fazê-lo com precisão e rapidez assustadoras.

Entre as atividades domésticas, é comum a mulher cozinhar para toda a família que consiste nos filhos, no marido, em agregados e filhos adotivos e, em alguns casos, nos idosos (pais e mães). Porém, recentemente (assim como em outras regiões do globo) o cenário vem se transformando. Hoje, segundo muitas mulheres com quem conversei, os homens participam mais na educação dos filhos. "Tem alguns que até deixam suas mulheres estudarem, enquanto eles cuidam da casa", me disse uma das cozinheiras de um restaurante local, cujo principal sonho é ver sua filha graduada na escola e quem sabe chegar à universidade.

Novamente, vejo muitos paralelos com o Brasil, especialmente na estrutura das famílias em Ghana. Porém, aqui é significativamente maior a ausência da escola. Enquanto no Brasil brigamos por mais creches, aqui não há nenhuma. As escolas constituem um outro problema: elas existem, mas as taxas a serem pagas são enormes, além do sistema fraco e deficiente. Na próxima entrada do blog, tentarei explicar um pouco do sistema educacional em Ho. Para isso, estou "entrevistando" informalmente professores e trabalhadores da secretaria da educação daqui...

...até amanhã...espero, depois de nova e longa ausência do mundo virtual...




FOTOS tiradas em Amedzofe - Lago Volta

*acredito que não só no Lago Volta as mulheres façam esses "pacotes" para carregar os filhos - mas, como ainda não visitei toda Ghana, preferi não arriscar.

10 julho 2008

EWE! A língua mais complicada do mundo!

Em Ghana existem 5 línguas oficiais: o inglês e quatro línguas regionais. No distrito do Lago Volta, fala-se Ewe, além dos vários dialetos e variações.
Com todo o entusiasmo do mundo me inscrevi em aulas de ewe, com um professor de um dos cursos ginasiais de uma escola para meninas ...

Por 2GHc a hora (1 cedi equivale a um dólar americano), e na cia de dois outros voluntários, comecei minha aventura "ewesca".
Até o presente momento, mal e porcamente só consigo agradecer, dar tchau e cumprimentar! Sendo este último um grande trunfo e eis o porquê!

Cumprimentos em Ghana

Em todas as regiões e particularmente nas vilas e comunidades, saber cumprimentar é o primeiro passo para ser "aceito"; aceito ainda como estrangeiro, mas não mais como "corpo estranho".

São várias as formas de salutar alguém ou um grupo de pessoas e elas mudam de acordo com a situação.

O básico é um "sua vida vai bem? e a vida da sua família". Ao que se responde com uma interjeição: "eeee".

Outro cumprimento bastante comum é o "weizo", dito também em inglês "you are welcome". Toda vez que alguém entra em um cômodo, loja, casa, etc, etc, seja privado ou público, todos os que já estão no lugar devem falar "weizo". O recém-chegado, por sua vez, deve responder com uma interjeição clássica: "iooo". Uma interjeição que não tem nenhum significado específico, mas é muito usada, especialmente para reconhecer um "weizo" bem dito....

Os mais velhos - especialmente as mulheres devem ser cumprimentadas formalmente e normalmente, os cumprimentos são enormes e seguem sempre o mesmo diálogo:
- Irmã! Como vai a senhora e sua família?
- EEEEEE. E você e sua vida?
- EEEE, e sua vida?
- Bem e a sua?
..... e isso pode continuar por horas a fio, repetindo exatamente a mesma idéia com palavras diferentes.

Normalmente, as pessoas tendem a fazer todo o ritual enquanto seguram e apertam sua mão. No começo quase tive um troço, pensando "meu deus, esse é o aperto de mão mais longo da história". Depois do terceiro aperto de mão de 5 minutos, aprendi a respeitar e aproveitar o gesto carinhoso.

Se há pressa, faz-se um aperto de mão diferente: rápido e após um entrelaçar de dedos impossível de explicar (mas relativamente fácil de fazer), os dois envolvidos no cumprimento devem estalar os indicadores simultaneamente. É uma maluquice, mas que faz sentido...

Porém, ao passo que apertos de mão são comuns, ninguém beija no rosto e raros são aqueles que abraçam. Obviamente, como boa latina que sou, isso me incomodou um pouco e partindo da idéia de que estou aqui não só para receber, mas também para "interferir", cumprimento todos no meu trabalho com beijos e abraços.

E, para minha surpresa, logo no segundo dia, todos aqui do Resource Centre já tinham adotado com carinho a nova moda!

Ainda há muito para contar sobre o "falar" em Ghana e a dificuldade que há quando o inglês sai de cena (e, embora seja uma das línguas oficiais, mais da metade das pessoas falam muito, muito pouco)...

Até breve!

08 julho 2008

2 semanas em Ghana!

Finalmente...depois de muito postergar escritos sobre minha chegada, escrevo sobre o que têm sido minhas duas primeiras semanas em Ho, Ghana.

Aproveito e peço desculpas a quem me lê pela demora...mas, entre constantes quedas da internet e pouquíssimo tempo para escrever, acabei desaparecendo do mundo virtual...

Decidi que para não matar ninguém de tédio não farei deste blog um diário contando cada detalhe do meu dia... No lugar, escreverei em blocos temáticos ... como "a comida em Ho"; "ewe e a dificuldade de comunicação"; etc etc etc ...

Pois então...começo com um tema fundamental: a paisagem de Ho!

uma das quatro grandes avenidas de Ho





Chão de terra batida e quatro avenidas pavimentadas desenham a área central da cidade. Do centro, braços de terra levam às rodovias e as pequenas ruelas e vielas onde se encontram a maioria das áreas residenciais. Em uma delas, chamada Allayah Road é onde está a casa em que vivo e os Headquarters da parte de Microfinanças da organização para qual trabalho.
Eu, porém, trabalho com saúde reprodutiva e sexualidade em um outro prédio, que fica no Civic Centre - a área comercial central de Ho.

Ho é uma cidade relativamente grande, especialmente para os padrões de Ghana. Capital da Região do Lago Volta, Ho tem cerca de 60 mil habitantes e é um importante centro de negócios. Diariamente, pessoas de diferentes aldeias do Lago Volta vêm à Ho para suas trocas comerciais. Então não é raro ver grande movimentação perto da estação de TroTro's* e do Mercado*.
Mesmo com toda a chuva (diária e forte), as ruas de Ho ficam cobertas de poeira. Há um certo ar de faroeste, com aquela areia constante em todas as mobílias da casa e dos estabelecimentos. Há pouco verde na cidade, mas logo na saída da área central é possível ver montanhas e o incício das florestas. Assim como o Brasil, a vegetação em Ghana é bastante diversificada e as paisagens são as mais diversas.
Em breve, relatarei algumas das viagens de fim-de-semana. Até agora passei dois dias na praia de Keta e dois dias em Aflao, onde é possível fazer trecking em uma floresta fechada, subir o lindo Mount Gimi e visitar duas enormes cachoeiras.

mercado de Ho
Trotro - é o principal meio de transporte inter-estadual e inter-municipal em Ghana. É normalmente uma van caindo aos pedaços (normalmente sem portas ou farol) que teoricamente comportaria umas 12 pessoas. Porém, nenhum trotro deixa a estação com menos de 15, 16. É divertidíssimo...percorrer horas de um lugar para outro com o braço de alguém na suas costas e a perna de outra pessoa na sua cabeça...
A todos que visitam Ghana, a mensagem é clara: Ghana não é Ghana sem uma viagem de TroTro.

Mercado - Multicolorido e com diferentes aromas, o mercado de Ghana fica aberto diariamente. Mas, a cada quatro dias acontece o Market Day - quando novas barracas aparecem e a oferta de produtos é maior. Lá é possível comprar de calçados à bananas. E, minha predileta, é a barraca de jogos e quinquilharias...juro! Vi as coisas mais inacreditáveis a venda nesse "spot"; inlcuindo uma estátua sem cabeça, conjunto de retalhos, e calçados usados...

Infelizmente meu computador não tem colaborado comigo, então ainda não consegui fazer o "upload" das minhas fotos. Em breve, porém, espero conseguir mostrar alguns clicks da minha nova casa.

17 junho 2008

MEU DESVIO EUROPEU - Ïnnsbruck



Ïnnsbruck: oeste da Áustria; capital do estado do Tirol. Foi duas vezes sede das Olímpiadas de Inverno e foi, na época áurea do império austríaco um importante centro comercial e de lazer.

O imperador Maximiliam I tinha absoluta paixão pela cidade e ordenou que fosse enterrado lá - na vila onde ele também havia construído palácios e igrejas...

Infelizmente, como o imperador morreu em batalha e seu corpo não foi achado a tempo, hoje, cumprindo seu desejo, há um "túmulo símbólico" na Hofkirche (Igreja Imperial). Ele havia planejado (e assim foi cumprido) que seu corpo fosse permanentemente velado por imagens de grandes personalidades políticas e nobres da Europa. Por isso, foram convocados os mais importantes escultores da época para desenvolver gigantescas estátuas de bronze que circundam a cripta simbólica do imperador.

xxxx

Esta cidadezinha é uma vila de bonecas. Ao caminhar pelas suas vielas estreitas cobertas de paralelepípedos, me senti em uma espécie de contos de fadas. O céu azulão só era cortado pelas imensas montanhas austríacas ainda (em plena primavera) cobertas de neve.

Que lugar sensacional!

Fiquei hospedada em uma pousada/ albergue no centro antigo, onde só se é permitido andar a pé. Da janela do quarto (que dividi com cinco pessoas muito divertidas) eu conseguia avistar o mais lindo cartão postal possível. As montanhas dando espaço para essa vilazinha perdida no tempo...

Porém, Ïnnsbruck não é inteira assim. Hoje, a cidade “nova”, que se estendeu a partir do centro antigo, é uma cidade moderna, inteira voltada para o consumo de luxo. A idéia toda lembra a nossa Campos do Jordão.

XXXX

Linda, linda e linda! Minha experiência em ïnnsbruck foi incrível: conheci pessoas maravilhosas (saliento o James Carl Rinto e o Rhys Horsefield). Com eles, curti a cidade (de dia e de noite) e ainda mudei meu roteiro para acompanhá-los à Kiefersfelden e Knufenstal, pequenas cidades da fronteira austríaca com a Alemanha.




Definitivamente, Ïnnsbruck é uma das cidades mais românticas do mundo. Lá, todas as ruas, calçadas e casas exultam um tempo de donzelas e cavaleiros, disputando seu lugar ao sol. Vale lembrar que, assim como outras regiões européias, várias vezes a população plebéia padecia de fome, frio e incontáveis doenças.
Há, entretanto, um charme enorme em toda essa realeza - imperadores que direcionavam legiões de combatentes para inúmeras guerras territoriais. O Maximiliam, especificamente é tido como um herói, pois, em toda as batalhas que travou, sempre esteve à frente do exército, lutando e guerreando como os outros soldados. Tempos diferentes esses, não?
Por mais sanguinolenta que fosse a diferença de classes da época, fica claro ver (e entender) o código de honra feudal - as ligações entre protetor e protegido. Assim como em outras paisagens austríacas e alemãs, é impossível não viver uma história milenar em Ïnnsbruck - cidade que confundiu ainda mais minhas teimosas concepções...


16 junho 2008

MEU DESVIO EUROPEU - Dachau

Dachau: construído em 1933, um dos maiores campos de concentração do regime nazista, existiu até o dia 29 de Abril de 1945. Embora, inicialmente, o campo fosse utilizado somente para "contenção", Dachau foi também um campo de extermínio. Lá morreram mais de 30 mil pessoas, ou vítimas de tortura extrema, ou por fome, frio, doenças ou nas câmaras de gás.

Dentre as vítimas, figuravam judeus, comunistas, homossexuais, e todos aqueles que, de alguma maneira, eram tidos como traidores e opositores do regime.

Hoje, Dachau virou um Memorial, celebrando os que morreram ou sofreram as crueldades do espaço. Vale a pena visitar o site http://www.kz-gedenkstaette-dachau.de/english.html, que inclui inúmeras informações sobre o que é hoje a idéia de um memorial.

xxxx

Minha experiência em Dachau, assim como a de provavelmente todos que o visitam, foi um choque violento, muita tristeza no peito e a cruel noção de que o lá aconteceu ainda se repete em inúmeros países do globo.

O holocausto, marca trágica da nossa história, ainda existe. Sob a égide de assassinos, vemos mortos diariamente: dos cárceres brasileiros, Guantanamo, cerco israelita na Palestina, e outros tantos lugares. Todos existindo como espaço de morte e tortura, embora não figurem com a marca oficial como nos campos de concentração alemães.

xxxx

Ao passar pelos portões de Dachau, lemos em alemão a frase que alertava aos prisioneiros "o trabalho os libertará". Um das múltiplas estratégias de coação do campo. Os prisioneiros entravam com a idéia de que quanto mais trabalhassem, mais cedo poderiam ser libertados. Obviamente, não era isso que acontecia....e diariamente, os prisioneiros (em Dachau, todos homens adolescentes e adultos) trabalhavam desesperadamente, incluindo para a indústria bélica da guerra e para companhias automotivas, como a BMW.

Mais adiante, caminhamos por o que hoje é um museu, mas que eram as antigas habitações do campo. Celas gigantescas, fotos de terror, banheiros onde muitos eram humilhados e espaços das mais cruéis formas de tortura.



Habitação - no estágio de "média lotação"


A cada passo dado, o frio que o visitante sente aumenta sensivelmente. O concreto cinza toma conta de quem somos e as lágrimas são impossíveis de conter. Cada relato ali escrito e, cada rosto ali marcado conta mais uma versão do horror que lá existiu.

A visita continua e a cada "ala" do gigantesco espaço, surgem novos memoriais em homenagem às diferentes vítimas. Curiosamente, os chamados "bandidos" (criminosos que estavam em prisões comuns e para lá foram transferidos) até hoje, não têm nenhum memorial em sua homenagem. E, assim como os judeus, comunistas e homossexuais que lá estiveram, também sofreram e morreram. Entre os "bandidos", estavam desde os considerados "criminosos pesados", até pessoas que roubavam comida para sobreviverem. (Lembrando que, no início da existência do campo, a Alemanha vivia um período de extrema recessão e crise econômica.)

Ao final da longa caminhada pelas diferentes casas do campo, visitamos* a chamada "área negra": basicamente, a casa onde aconteciam os falsos banhos. Grupos de prisioneiros eram levados para uma saleta, onde deviam se despir para um suposto banho. Na próxima sala, eles eram trancados e, no lugar da água, gás saía do chuveiro. Assim, diariamente, grupos de 50 pessoas eram aniquiladas de uma só vez. Na sala seguinte, os crematórios e o fim da memória.

Por volta de 43, houve uma crise por falta de carvão, então, os corpos eram simplesmente amontoados em valas ao lado do crematório.

Mais adiante, visitamos as celas de solitária, ou de presos considerados especiais: padres, artistas e intelectuais, considerados diferentes dos outros presos.

xxxx

Cinco longas horas de visita, ouvindo e lendo as diferentes histórias que por lá passaram. Uma experiência que vale a pena e é necessária para nos lembrar da nossa desumanidade. Os tempos passaram, mas, salvo meu pouco conhecimento, a história é cíclica. Repetimos constantemente modelos passados, aniquilando vidas de muitos, muitos anônimos. Até hoje, não se sabe ao certo quantos morreram em Dachau. Isso, lembrando que o campo não tinha o propósito de extermínio.





Tradução: Nunca mais

xxxx

Depoimento de Edgar Kupfer-Koberwitz, ex-prisioneiro, ao descrever sua experiência em Dachau (1940):

"The wagon stopped. We climbed out and were led to a squat building. In front of us, in a ditch about four meters wide, flowed water. Barbed wire was spanned across the other side. A bridge led over the water. On the other side of the bridge was a building, in its center a yawning gate, on top of this gate, rising out of the roof of the building, a square tower, where guards wearing steel helmets stood. Machinegun barrels jutted out of the window. My neighbor whispered to me: 'The barbed wire is electrified. You see the large open space and behind it - all the low barracks? That's were we live.'
The barracks in the distance gleamed green through the barbed wire. Even from so far away, you could see that everything was kept painstakingly clean, not even the smallest scrap of paper lay around. But something pitiless loomed over everything, something awful, something icy that was frightening. A column marched down the road, which was lined with poplars. They were singing some song. They marched directly towards the gate, in exact step and in a dead straight line. They all looked strangely pale. Some of them sneaked an interested look at us, but nobody dared to raise his head. In the large entrance a paled iron gate was opened. The group passed over the bridge and through the gate, and then they marched singing over the large open space and vanished between the distant barracks."


*Fiz o tour de Dachau, em grupo, guiada por uma equipe especializada.


13 junho 2008

MEU DESVIO EUROPEU - Munique - imagens

Algumas imagens de Munique

EUA, BRASIL, Japão, EUA e Taiwan.




Bierhall Augustiner...absolutamente DELICIOSAS: COMIDA E CERVEJA!!!


Marienplatz!



O emocionante Glockenspiel!!!




A melhor imagem de Munique...haha


Os antigos estábulos (sim, estábulos) imperiais...quanta simplicidade, não?! rs...Hoje, lá ficam lojas e cafés que vendem capuccinos pela bagatela de EUR 18!!!!

12 junho 2008

MEU DESVIO EUROPEU - Munique

Munique - cidade principal da Baviera!!!! Cerveja, Schnitzel, Glockenspiel, Cerveja e, é claro...mais cerveja!

Minha experiência começou com uma caminhada deliciosa a partir da Marienplatz pelas inúmeras ruelas, vielas até boulevards gigantescos. Muito da história moderna da Alemanha se deu nessas ruazinhas - das reuniões regadas a cerveja do partido nazista até a articulação do golpe de Hitler. Palco da história clássica também, Munique reúne prédios antiquérrimos que não foram destruídos na guerra e, assim como Berlim, prédios renovados, reconstruídos e "renascidos" das cinzas.

A cada monumento, descobri um segredo e pouco a pouco, fui também me entendo - ou entendendo minha parcela alemã. Eu que jamais havia me identificado com o pouco que conhecia sobre a terra dos meus antepassados, me vi cada vez mais "em casa".
Para descobrir e melhor entender as anedotas e contos desta linda cidade, me juntei, novamente, à equipe da free tour e fiz um longo passeio pelas suas principais atrações: (perdão desde já pela tentativa -falida- de praticar meu conciso alemão)

- Marienplatz
- Marienkirche
-Altes Rathaus (velha câmara municipal)
-Glockspiel
-Frauenkirche
-National Theather
- Maximillaneum
-Königplatz
-Odeonplatz
-Felderrnhalle
-Theatherner Kirche
-Mercado central

Além de claro, a Höffbraushaus...a cervejaria mais famosa do mundo. Lá aprendi como beber e brindar propriamente com o pequeno jarro de 1L. Uma cerveja que vale por 10 bifinhos...haha

Conheci e fiz vários amigos pelo hostel, passeei na companhia de vários deles e ouvi verdadeiras orquestras de rua. Conjuntos de até oito músicos reunidos, tocando valsas, canções tradicionais alemães e claro, vários Beethovens!

Para aqueles que curtem as megas atrações, dou a dica do Glockenspiel, a apresentação de sinos e bonequinhos que dançam e contam uma história! 11 TERRÍVEIS minutos de sinos desafinados. É engraçadíssimo e vale a pena conferir. Um número imenso de turistas amontoados para a tortura coletiva!

Enfim, infelizmente, tenho que resumir minhas aventuras e pedir que o computador aqui colabore para me deixar postar algumas fotos! No próximo texto, contarei um pouco da incrível experiência de visitar Dachau, o campo de concentração que ficou ativo por mais tempo na Alemanha. Ele fica bem perto de Munique e vale a pena de ser visto. Hoje um monumento às vítimas que lá foram torturadas e mortas, o espaço assusta e aflige os que o 'visitam'. Novamente, os alemães se mostram dispostos a continuamente relembrar o passado para não cometer os mesmos erros no futuro.

11 junho 2008

MEU DESVIO EUROPEU - Berlim - imagens

Museu Nacional de Belas Artes



O portão de Brandenburg



Passeata oela paz no Tibet



Reichstag





A australiana Jackie e eu em um café em Berlim.



Night out em Berlim: pluralidade!





MEUS TRÊS CAVALEIROS: meus roomates canadenses em Berlim: Erik, Matt e Gavin.