17 junho 2008

MEU DESVIO EUROPEU - Ïnnsbruck



Ïnnsbruck: oeste da Áustria; capital do estado do Tirol. Foi duas vezes sede das Olímpiadas de Inverno e foi, na época áurea do império austríaco um importante centro comercial e de lazer.

O imperador Maximiliam I tinha absoluta paixão pela cidade e ordenou que fosse enterrado lá - na vila onde ele também havia construído palácios e igrejas...

Infelizmente, como o imperador morreu em batalha e seu corpo não foi achado a tempo, hoje, cumprindo seu desejo, há um "túmulo símbólico" na Hofkirche (Igreja Imperial). Ele havia planejado (e assim foi cumprido) que seu corpo fosse permanentemente velado por imagens de grandes personalidades políticas e nobres da Europa. Por isso, foram convocados os mais importantes escultores da época para desenvolver gigantescas estátuas de bronze que circundam a cripta simbólica do imperador.

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Esta cidadezinha é uma vila de bonecas. Ao caminhar pelas suas vielas estreitas cobertas de paralelepípedos, me senti em uma espécie de contos de fadas. O céu azulão só era cortado pelas imensas montanhas austríacas ainda (em plena primavera) cobertas de neve.

Que lugar sensacional!

Fiquei hospedada em uma pousada/ albergue no centro antigo, onde só se é permitido andar a pé. Da janela do quarto (que dividi com cinco pessoas muito divertidas) eu conseguia avistar o mais lindo cartão postal possível. As montanhas dando espaço para essa vilazinha perdida no tempo...

Porém, Ïnnsbruck não é inteira assim. Hoje, a cidade “nova”, que se estendeu a partir do centro antigo, é uma cidade moderna, inteira voltada para o consumo de luxo. A idéia toda lembra a nossa Campos do Jordão.

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Linda, linda e linda! Minha experiência em ïnnsbruck foi incrível: conheci pessoas maravilhosas (saliento o James Carl Rinto e o Rhys Horsefield). Com eles, curti a cidade (de dia e de noite) e ainda mudei meu roteiro para acompanhá-los à Kiefersfelden e Knufenstal, pequenas cidades da fronteira austríaca com a Alemanha.




Definitivamente, Ïnnsbruck é uma das cidades mais românticas do mundo. Lá, todas as ruas, calçadas e casas exultam um tempo de donzelas e cavaleiros, disputando seu lugar ao sol. Vale lembrar que, assim como outras regiões européias, várias vezes a população plebéia padecia de fome, frio e incontáveis doenças.
Há, entretanto, um charme enorme em toda essa realeza - imperadores que direcionavam legiões de combatentes para inúmeras guerras territoriais. O Maximiliam, especificamente é tido como um herói, pois, em toda as batalhas que travou, sempre esteve à frente do exército, lutando e guerreando como os outros soldados. Tempos diferentes esses, não?
Por mais sanguinolenta que fosse a diferença de classes da época, fica claro ver (e entender) o código de honra feudal - as ligações entre protetor e protegido. Assim como em outras paisagens austríacas e alemãs, é impossível não viver uma história milenar em Ïnnsbruck - cidade que confundiu ainda mais minhas teimosas concepções...


16 junho 2008

MEU DESVIO EUROPEU - Dachau

Dachau: construído em 1933, um dos maiores campos de concentração do regime nazista, existiu até o dia 29 de Abril de 1945. Embora, inicialmente, o campo fosse utilizado somente para "contenção", Dachau foi também um campo de extermínio. Lá morreram mais de 30 mil pessoas, ou vítimas de tortura extrema, ou por fome, frio, doenças ou nas câmaras de gás.

Dentre as vítimas, figuravam judeus, comunistas, homossexuais, e todos aqueles que, de alguma maneira, eram tidos como traidores e opositores do regime.

Hoje, Dachau virou um Memorial, celebrando os que morreram ou sofreram as crueldades do espaço. Vale a pena visitar o site http://www.kz-gedenkstaette-dachau.de/english.html, que inclui inúmeras informações sobre o que é hoje a idéia de um memorial.

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Minha experiência em Dachau, assim como a de provavelmente todos que o visitam, foi um choque violento, muita tristeza no peito e a cruel noção de que o lá aconteceu ainda se repete em inúmeros países do globo.

O holocausto, marca trágica da nossa história, ainda existe. Sob a égide de assassinos, vemos mortos diariamente: dos cárceres brasileiros, Guantanamo, cerco israelita na Palestina, e outros tantos lugares. Todos existindo como espaço de morte e tortura, embora não figurem com a marca oficial como nos campos de concentração alemães.

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Ao passar pelos portões de Dachau, lemos em alemão a frase que alertava aos prisioneiros "o trabalho os libertará". Um das múltiplas estratégias de coação do campo. Os prisioneiros entravam com a idéia de que quanto mais trabalhassem, mais cedo poderiam ser libertados. Obviamente, não era isso que acontecia....e diariamente, os prisioneiros (em Dachau, todos homens adolescentes e adultos) trabalhavam desesperadamente, incluindo para a indústria bélica da guerra e para companhias automotivas, como a BMW.

Mais adiante, caminhamos por o que hoje é um museu, mas que eram as antigas habitações do campo. Celas gigantescas, fotos de terror, banheiros onde muitos eram humilhados e espaços das mais cruéis formas de tortura.



Habitação - no estágio de "média lotação"


A cada passo dado, o frio que o visitante sente aumenta sensivelmente. O concreto cinza toma conta de quem somos e as lágrimas são impossíveis de conter. Cada relato ali escrito e, cada rosto ali marcado conta mais uma versão do horror que lá existiu.

A visita continua e a cada "ala" do gigantesco espaço, surgem novos memoriais em homenagem às diferentes vítimas. Curiosamente, os chamados "bandidos" (criminosos que estavam em prisões comuns e para lá foram transferidos) até hoje, não têm nenhum memorial em sua homenagem. E, assim como os judeus, comunistas e homossexuais que lá estiveram, também sofreram e morreram. Entre os "bandidos", estavam desde os considerados "criminosos pesados", até pessoas que roubavam comida para sobreviverem. (Lembrando que, no início da existência do campo, a Alemanha vivia um período de extrema recessão e crise econômica.)

Ao final da longa caminhada pelas diferentes casas do campo, visitamos* a chamada "área negra": basicamente, a casa onde aconteciam os falsos banhos. Grupos de prisioneiros eram levados para uma saleta, onde deviam se despir para um suposto banho. Na próxima sala, eles eram trancados e, no lugar da água, gás saía do chuveiro. Assim, diariamente, grupos de 50 pessoas eram aniquiladas de uma só vez. Na sala seguinte, os crematórios e o fim da memória.

Por volta de 43, houve uma crise por falta de carvão, então, os corpos eram simplesmente amontoados em valas ao lado do crematório.

Mais adiante, visitamos as celas de solitária, ou de presos considerados especiais: padres, artistas e intelectuais, considerados diferentes dos outros presos.

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Cinco longas horas de visita, ouvindo e lendo as diferentes histórias que por lá passaram. Uma experiência que vale a pena e é necessária para nos lembrar da nossa desumanidade. Os tempos passaram, mas, salvo meu pouco conhecimento, a história é cíclica. Repetimos constantemente modelos passados, aniquilando vidas de muitos, muitos anônimos. Até hoje, não se sabe ao certo quantos morreram em Dachau. Isso, lembrando que o campo não tinha o propósito de extermínio.





Tradução: Nunca mais

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Depoimento de Edgar Kupfer-Koberwitz, ex-prisioneiro, ao descrever sua experiência em Dachau (1940):

"The wagon stopped. We climbed out and were led to a squat building. In front of us, in a ditch about four meters wide, flowed water. Barbed wire was spanned across the other side. A bridge led over the water. On the other side of the bridge was a building, in its center a yawning gate, on top of this gate, rising out of the roof of the building, a square tower, where guards wearing steel helmets stood. Machinegun barrels jutted out of the window. My neighbor whispered to me: 'The barbed wire is electrified. You see the large open space and behind it - all the low barracks? That's were we live.'
The barracks in the distance gleamed green through the barbed wire. Even from so far away, you could see that everything was kept painstakingly clean, not even the smallest scrap of paper lay around. But something pitiless loomed over everything, something awful, something icy that was frightening. A column marched down the road, which was lined with poplars. They were singing some song. They marched directly towards the gate, in exact step and in a dead straight line. They all looked strangely pale. Some of them sneaked an interested look at us, but nobody dared to raise his head. In the large entrance a paled iron gate was opened. The group passed over the bridge and through the gate, and then they marched singing over the large open space and vanished between the distant barracks."


*Fiz o tour de Dachau, em grupo, guiada por uma equipe especializada.