Dentre as vítimas, figuravam judeus, comunistas, homossexuais, e todos aqueles que, de alguma maneira, eram tidos como traidores e opositores do regime.
Hoje, Dachau virou um Memorial, celebrando os que morreram ou sofreram as crueldades do espaço. Vale a pena visitar o site http://www.kz-gedenkstaette-dachau.de/english.html, que inclui inúmeras informações sobre o que é hoje a idéia de um memorial.
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Minha experiência em Dachau, assim como a de provavelmente todos que o visitam, foi um choque violento, muita tristeza no peito e a cruel noção de que o lá aconteceu ainda se repete em inúmeros países do globo.
O holocausto, marca trágica da nossa história, ainda existe. Sob a égide de assassinos, vemos mortos diariamente: dos cárceres brasileiros, Guantanamo, cerco israelita na Palestina, e outros tantos lugares. Todos existindo como espaço de morte e tortura, embora não figurem com a marca oficial como nos campos de concentração alemães.
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Ao passar pelos portões de Dachau, lemos em alemão a frase que alertava aos prisioneiros "o trabalho os libertará". Um das múltiplas estratégias de coação do campo. Os prisioneiros entravam com a idéia de que quanto mais trabalhassem, mais cedo poderiam ser libertados. Obviamente, não era isso que acontecia....e diariamente, os prisioneiros (em Dachau, todos homens adolescentes e adultos) trabalhavam desesperadamente, incluindo para a indústria bélica da guerra e para companhias automotivas, como a BMW.
Mais adiante, caminhamos por o que hoje é um museu, mas que eram as antigas habitações do campo. Celas gigantescas, fotos de terror, banheiros onde muitos eram humilhados e espaços das mais cruéis formas de tortura.
Habitação - no estágio de "média lotação"
A visita continua e a cada "ala" do gigantesco espaço, surgem novos memoriais em homenagem às diferentes vítimas. Curiosamente, os chamados "bandidos" (criminosos que estavam em prisões comuns e para lá foram transferidos) até hoje, não têm nenhum memorial em sua homenagem. E, assim como os judeus, comunistas e homossexuais que lá estiveram, também sofreram e morreram. Entre os "bandidos", estavam desde os considerados "criminosos pesados", até pessoas que roubavam comida para sobreviverem. (Lembrando que, no início da existência do campo, a Alemanha vivia um período de extrema recessão e crise econômica.)
Ao final da longa caminhada pelas diferentes casas do campo, visitamos* a chamada "área negra": basicamente, a casa onde aconteciam os falsos banhos. Grupos de prisioneiros eram levados para uma saleta, onde deviam se despir para um suposto banho. Na próxima sala, eles eram trancados e, no lugar da água, gás saía do chuveiro. Assim, diariamente, grupos de 50 pessoas eram aniquiladas de uma só vez. Na sala seguinte, os crematórios e o fim da memória.
Por volta de 43, houve uma crise por falta de carvão, então, os corpos eram simplesmente amontoados em valas ao lado do crematório.
Mais adiante, visitamos as celas de solitária, ou de presos considerados especiais: padres, artistas e intelectuais, considerados diferentes dos outros presos.
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Cinco longas horas de visita, ouvindo e lendo as diferentes histórias que por lá passaram. Uma experiência que vale a pena e é necessária para nos lembrar da nossa desumanidade. Os tempos passaram, mas, salvo meu pouco conhecimento, a história é cíclica. Repetimos constantemente modelos passados, aniquilando vidas de muitos, muitos anônimos. Até hoje, não se sabe ao certo quantos morreram em Dachau. Isso, lembrando que o campo não tinha o propósito de extermínio.

Tradução: Nunca mais
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Depoimento de Edgar Kupfer-Koberwitz, ex-prisioneiro, ao descrever sua experiência em Dachau (1940):
"The wagon stopped. We climbed out and were led to a squat building. In front of us, in a ditch about four meters wide, flowed water. Barbed wire was spanned across the other side. A bridge led over the water. On the other side of the bridge was a building, in its center a yawning gate, on top of this gate, rising out of the roof of the building, a square tower, where guards wearing steel helmets stood. Machinegun barrels jutted out of the window. My neighbor whispered to me: 'The barbed wire is electrified. You see the large open space and behind it - all the low barracks? That's were we live.'
The barracks in the distance gleamed green through the barbed wire. Even from so far away, you could see that everything was kept painstakingly clean, not even the smallest scrap of paper lay around. But something pitiless loomed over everything, something awful, something icy that was frightening. A column marched down the road, which was lined with poplars. They were singing some song. They marched directly towards the gate, in exact step and in a dead straight line. They all looked strangely pale. Some of them sneaked an interested look at us, but nobody dared to raise his head. In the large entrance a paled iron gate was opened. The group passed over the bridge and through the gate, and then they marched singing over the large open space and vanished between the distant barracks."
*Fiz o tour de Dachau, em grupo, guiada por uma equipe especializada.
Um comentário:
Quando me dou conta de tanta dor que tanta gente vive ou viveu, fico pensando em o que me fez viver distante de tudo isso. Sorte, talvez? Privilégio? Ou a dor ainda está por vir? Não sei... Mais um mistério para a lista de mistérios da vida humana.
Beijos!
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