21 outubro 2008

should i stay or should I go e VIVA O THE CLASH

Minha vida em Ghana pode acabar em dezembro ou pode continuar até meados do próximo ano. fui convidada a ficar mais um tempo por aqui... Me ofereceram o cargo de Comunications Officcer - algo que pode ser traduzido como uma posição de coordenação. 
A idéia é que eu coordenene o programa de peer education e lide com toda a parte de comunicação do site - desde a alimentação da newsletter e do site da ong até lidar com a imprensa (assessoria) e design de materiais (posters, flyers, etc). 
A possibilidade de ficar mais tempo é sem dúvida uma honra e um tremendo voto de confiança. 

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Minha auto estima, que andava meio cabisbaixa, foi lá para cima. E, ainda mais, como um reconhecimento de nada mais do que eu fazendo meu trabalho... 
Porém, e sempre existem poréns... ainda não aceitei ou recusei a oferta. Oficialmente tenho mais uma semana para comunicar minha decisão. 

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Entre os famigerados poréns, está a saudades de casa. Uma saudades tamanha. De tudo e todos. Dos amigos queridos, do colo de mãe, da comida, do chuveiro, da cama, dos cheiros, gostos e barulhos... saudades do tato do abraço do similar, saudades dos beijos conhecidos. Saudades. 
Lembro da canção do recém-falecido Dorival. "Ah mais que saudades tenho da Bahia. Ah. Se eu escutasse o que mamãe dizia. Ah, essa saudades dentro do meu peito. Eu pelo menos mereço o direito de ter alguém com quem eu possa me confessar." 
Saudades desse alguém.
Saudades de um alguém brasileiro, que fale a mesma línga que eu, que saiba o significado de saudades, que ame da mesma forma que eu, que brinque com o mesmo humor que o meu....

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Vim para Ghana com a perspectiva e a vontade do encontro com o Outro. Mal sabia eu que esse Outro não me daria descanso. O contato com a alteridade - que tanto busquei - cansa. É uma tarefa contínua e cotidiana. 
A cada dia meu encontro com o Outro se torna mais difícil. Com as dificuldades vem a vontade de abandonar o barco. Fugir. Remar em direções opostas. Cruzar o Atlântico e buscar aquilo que me é familiar.

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Diariamente SEM FALTA, recebo ao menos 10 propostas de casamento, me colocando como se fosse um objeto com garantia de futuro. Sou tida como americana ou inglesa. Se sou branca, tenho dinheiro (o que para os padrões de Ghana faz sim sentido). Mas, tudo o que é maravilhoso do meu encontro com as mulheres daqui é o extremo oposto com os homens. É sem dúvida uma manifestção infernal. Falta, além de tudo, tato. Em Ghana, não existe uma noção clara de privacidade e, por isso, qualquer comentário é feito em alto e bom SOM. Não há escapatória. É aquela sensação horrorosa de passar na frente de um canteiro de obras por 24 horas seguidas. Fogo. 

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Sei que estou naqueles dias em que preciso ventilar meu cérebro. Deixar as angústias transparecerem. Sei também que preciso dormir e recomeçar minha rotina por aqui. Rotina que eu felizmente adoro. Acordarei com os galos (absolutamente fora de sintonia) lá pelas quatro da manhã.... enrolarei "um bocadinho mais" na cama até umas sete e meia. Levantarei, tomarei banho e bora pro trabalho. Pegarei um taxi, travarei o mesmo diálogo de todos os dias com o motorista, recusarei dar meu telefone e finalmente chegarei no trabalho, onde passarei oito horas na companhia maravilhosa de pesssoas queridas e dos jovens com quem trabalho. Voltarei para casa cansada, pensando se devo ou não blogar, calcularei minhas forças, darei muitas risadas, chorarei um pouquinho e ficarei mais perto de uma decisão. Até o dia que o sim ou não terão de aparecer. 

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Até breve!