22 julho 2008

Mulheres mães, mulheres trabalhadoras


Em Ho e especialmente nas vilas que visitei, as mulheres de Ghana são um exemplo, assim como a maioria das brasileiras, da famosa "dupla jornada de trabalho". Como creches e pré-escolas absolutamente não existem e, como muitas vezes, as famílias não conseguem pagar as taxas escolares, as mães têm que trabalhar, ao mesmo tempo que cuidam dos filhos.

Para não ser injusta, duas vezes em mais de um mês em Ho, vi pais acompanhados de seus filhos. Normalmente, é função da mãe prover e criar os filhos. Os pais trabalham e contribuem para o sustento da casa, mas não têm grandes obrigações emocionais ou no dia-a-dia das crianças. É claro que os pais amam seus filhos e sim se relacionam com eles, mas a responsabilidade de atender às necessidades das crianças é fundamentalmente da mãe e das outras figuras femininas da casa.

Assim que são capazes de segurar um bebê, as "irmãs mais velhas" são designadas para o cuidado das mais jovens. Normalmente em torno dos oito anos de idade, as pequenas trocam as fraldas, banham e dão de comer para as mais novas.

Nas barracas do mercado - principal atividade comercial em Ho e nos inúmeros salões de beleza cidade, as mulheres adultas estão freqüentemente acompanhadas de suas filhas e filhos. As mais velhas tomando conta das mais novas.

Os meninos, por sua vez, são designados para o cuidado dos irmãos, mas não têm a obrigação de assistir com comida, troca de fraldas e banhos. Normalmente, as mães os pedem para "vigiar" e brincar com os mais novos ou mais novas.

Quando o filho é único ou ainda muito pequeno para depender dos irmãos, as mães realizam todas as tarefas domésticas e de trabalho (mercado, salões de beleza, lojas) com os pequenos a tira-colo. Para ficar com as mãos livres, TODAS as mulheres de Ho e nas vilas da Região do Lago Volta*, levam as crianças em espécie de panos que enrolam na cintura.


É realmente intrigante ver todo o processo para "prender" o bebê nas costas. De uma maneira mágica, as mães (mesmo as mais jovens com cerca de 14 anos) conseguem fazê-lo com precisão e rapidez assustadoras.

Entre as atividades domésticas, é comum a mulher cozinhar para toda a família que consiste nos filhos, no marido, em agregados e filhos adotivos e, em alguns casos, nos idosos (pais e mães). Porém, recentemente (assim como em outras regiões do globo) o cenário vem se transformando. Hoje, segundo muitas mulheres com quem conversei, os homens participam mais na educação dos filhos. "Tem alguns que até deixam suas mulheres estudarem, enquanto eles cuidam da casa", me disse uma das cozinheiras de um restaurante local, cujo principal sonho é ver sua filha graduada na escola e quem sabe chegar à universidade.

Novamente, vejo muitos paralelos com o Brasil, especialmente na estrutura das famílias em Ghana. Porém, aqui é significativamente maior a ausência da escola. Enquanto no Brasil brigamos por mais creches, aqui não há nenhuma. As escolas constituem um outro problema: elas existem, mas as taxas a serem pagas são enormes, além do sistema fraco e deficiente. Na próxima entrada do blog, tentarei explicar um pouco do sistema educacional em Ho. Para isso, estou "entrevistando" informalmente professores e trabalhadores da secretaria da educação daqui...

...até amanhã...espero, depois de nova e longa ausência do mundo virtual...




FOTOS tiradas em Amedzofe - Lago Volta

*acredito que não só no Lago Volta as mulheres façam esses "pacotes" para carregar os filhos - mas, como ainda não visitei toda Ghana, preferi não arriscar.